Adriana Sabbag – Silco
Silco – Um dia uma moça ligou para mim dizendo que tinha um relógio de mesa e que gostaria de restaurá-lo. Pedi para que ela o trouxesse até mim para avaliar o trabalho.
Ele estava muito ruim. Imagine um relógio muito ruim, multiplique por 10, isso chega próximo ao estado que estava o relógio Silco da Adriana.
Inicialmente eu declinei do serviço, porém, ela me contou a história do relógio.
O primeiro salário
O avô dela veio da Síria a muito tempo atrás. Veio sozinho na esperança de ter uma vida melhor. Chegando aqui começou a trabalhar com tecidos, primeiro como empregado, depois abriu uma “portinha” onde vendia aviamentos.
Com o tempo constituiu família. Um filhos, dentre outros, nasceu desse casamento. Esse é o pai da Adriana.
O Avô dela, sustentou a família com a loja que já estava maior. Fazia questão que os filhos não trabalhassem enquanto estudassem. Foi assim com o pai da Adriana.
Esse filho se formou em Engenharia, com aproximadamente 24 anos, e com o primeiro salário, comprou o Relógio que agora chegava para que eu o restaurasse. Foi quase o salário inteiro. O pai dele, avô da Adriana, sempre dizia que gostaria de ter um relógio como esse e o filho fez a vontade do pai comprando o Relógio Carrilhão Silco de mesa.
Casa de cupim
O estado do Relógio estava tão deplorável que demorei uma eternidade para estudar e entender como faria aquela restauração. No final desse tempo cheguei a conclusão que melhor a fazer era trocar a frente e a parte de trás do relógio e foi o que fiz. O mais importante para mim era preservar o máximo possível a folha de madeira da parte externa. Não se encontra mais essa folha e se encontrasse, não combinaria com o relógio.
Consegui retirar as folhas. Pelo menos o mais inteiras que eu consegui.
Geometria
Depois de tirar as partes danificadas e as folhas, meu outro desafio era manter a geometria da caixa. Tive que usar MDF para as placas da frente e da traseira. Sinto muito se na restauração devemos buscar o material mais próximo do original, mas havia dois problemas: Primeiro que não há mais o compensado que foi usado originalmente e segundo que o MDF me daria mais estabilidade de corte e assim, a estrutura estaria preservada. Meu único desafio nessa situação seria realmente manter a geometria. Não foi fácil. A caixa original não estava perfeita, se assim fosse, bastava cortar com alguns equipamentos de corte e montar, mas não era o caso. Em vários pontos tive que fazer ajustes manuais e isso tomou bastante tempo. A montagem aconteceu em vários dias. Montava um parte e esperava a cola secar. Montava outra parte e esperava novamente. Isso levou quase 10 dias.
Removendo o verniz
Agora vinha a parte mais fácil depois da montagem.
Muito decapante de verniz, muita escova e muita lixa.
Aplicando o verniz
Acabamentos do aro, vidro e mostrador
Final do trabalho
Foto de família
