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out

O tempo passou como os trens

Sou um relógio de Estação de Trem

Relógio de Estação – Lembro como se fosse hoje o Sr. Ângelo e o Sr. Adelino subindo cada um em uma escada para me fixar no saguão principal da Estação da Luz.

Olha eu ali à direita

O ano não lembro bem, sabe como é, hoje tenho 140 anos, ou serão 130? Ah! Sei lá! Faz muito tempo. O tempo passou rápido como os trens que passavam atrás de mim.

Inglaterra. Meu país natal

Não sou brasileiro. Fui fabricado na Inglaterra. Yes, I’m British!!.

Quem me fabricou foi um tal de John Walker, numa rua chamada Cornhill, 77 que significa colina do milho. Não sei porque se quando sai da fábrica não havia milho algum perto de mim.

Viagem

Quem mandou me produzir foi uma tal de São Paulo Railway. Eu só fui fabricado anos depois e instalado aqui depois de uma viagem de navio desde a Inglaterra.

Cheguei na sua terra pelo porto de Santos, subi a serra do mar pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Mas quase subi pelo lombo de um burro pelo Caminho Pe. Anchieta, inaugurado em 1560. Dá para acreditar? Isso é antes da Calçada de Lorena por onde passava Dom Pedro I, só depois de 1792. Muito antes até do Caminho do Mar!

Anchieta? Imigrantes!? Só bem depois.

Testemunha da História

Vi muitas coisas acontecerem.

Muitas pessoas passaram sob mim. Sou da época que quem mandava no Brasil era um Imperador, mais precisamente Dom Pedro II.

Eu sei que quando eu fui instalado aqui a estação já estava funcionando desde 16 de fevereiro de 1867.

Primeiro era bem pequenina, depois ficou grandona, isso em 1º de março de 1901.

Primeira Estação da Luz (clique na imagem e saiba mais sobre essa estação)

Eu vi muitos momentos importantes como a Revolta de 1924 e a Revolução de 1932 até um incêndio em novembro de 1946 eu passei. Foi triste esse dia. A Estação ficou completamente destruída. Nem sei como eu sobrevivi.

Incêndio de 1946

Lá longe, na minha terra natal, ocorreram duas grandes guerras que chegaram a me influenciar. Alguns dias eu até parei, porque o Duílio que me dava corda toda semana nessa época, esqueceu. Ele era muito responsável, só teve alguns problemas e acabou esquecendo.

Outra coisa que eu vi foram personalidades que tinham a capital de São Paulo como destino e eram obrigadas a desembarcar aqui.

Reis, diplomatas e políticos foram recepcionados na minha frente e por aqui passavam ao se despedirem.

Vi muitos imigrantes. Italianos, portugueses, até japoneses passarem por mim e irem para a Hospedaria dos Imigrantes no Brás- promovendo a pequena vila de tropeiros a uma importante metrópole.

 

Retirada

Essa foi minha vida nesse local. Até que alguém decidiu me tirar do local que eu estava e me deixar de lado.

Talvez tenha sido porque eu dei problema. Não era para menos, funcione mais de 100 anos sem que me reparassem.

Recuperação

Pois bem, estava eu debaixo de uma escada quando passou esse Senhor chamado Flávio Cabral e me viu. Ele perguntou para o rapaz que o estava acompanhando porque eu estava abandonado de baixo daquela escava.

Depois fiquei sabendo que ele me pediu para o meu dono. Queria levar-me para a casa dele, disse que iria cuidar bem de mim.

Eu já estava ali a bom tempo, estava todo torto e sujo.

Fui levado para uma cidade chamada Campinas, que era a casa daquele do Sr. Flávio.

Restauração

Eles acharam a Saconi Relojoeiro para cuidar de mim.

Ah, rapaz, tomei um banho, minhas peças ruins foram consertadas, minha caixa foi renovada, mas não mexeram no meu mostrador.

Um tal de Simon lá da terra que eu nasci, especialista em relógios iguais a mim, disse para não mexer no mostrador.

Até preferi, já pensou? Eu com 140 anos com cara de 40? Não ia colar, né?

Depois de muito trabalho, voltei aqui para Campinas e aqui estou agora, instalado nesse lindo saguão.

Futuro de um relógio de estação

Sei que por mim vão passar muitas pessoas que simplesmente vão conferir as horas no meu mostrador, mas sei também que agora tenho mais 130 anos no mínimo para ficar perto das pessoas, que é o que mais gosto de fazer.

Texto escrito por mim, Márcio Saconi. Muitas informações inseridas são verídicas, mas outras são ficção para enriquecer o texto. Tanto o Sr. Adelino, o Sr. Ângelo e o Duílio são fictícios nessa história, mas não na vida. Os dois primeiros são meus avôs e o terceiro é meu Pai. Essa foi uma maneira que eu encontrei de homenagear minha ancestralidade, como esse relógio cheio de história.

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